Conteúdo para o 6º e 7º anos.
Para entender as eleições do próximo domingo, vamos debater o texto abaixo.
O que o prefeito pode fazer para transformar a educação ?
JOÃO BATISTA ARAUJO E OLIVEIRA - REVISTA VEJA - 23/09/2014 - SÃO PAULO, SP
Primeiro
passo é estabelecer um programa de ensino rigoroso e bem elaborado para as
disciplinas essenciais
Desde
o início deste ano, compartilho com vocês neste espaço reflexões sobre os
desafios do ensino fundamental no Brasil. Ao longo desse período, apresentei
elementos fundamentais que garantem o bom funcionamento de uma rede de ensino.
A partir de agora, publico uma série de dez artigos a respeito de medidas
eficazes que o prefeito pode implementar a curto prazo, com poucos recursos,
como estratégia de iniciar um processo de mudança. Nenhuma dessas medidas,
isoladamente ou mesmo em conjunto, assegura a formação de uma rede de ensino de
alta qualidade. Mas todas elas constituem ações relevantes em si mesmas e que,
se bem implementadas, podem servir de campo de aprendizagem e de capital
político para implementar reformas mais profundas.
A
primeira dessas medidas é: estabelecer programas de ensino rigorosos e bem
elaborados para as disciplinas essenciais.
O
tópico foi escolhido de propósito para encabeçar a lista. O mais importante vem
primeiro. E o mais importante é o programa de ensino. Não é papel de prefeito
fazer programa de ensino. Mas prefeito tem obrigação de apresentar à sociedade,
especialmente aos pais, aquilo que a escola se propõe a fazer, e assegurar que
as escolas de sua rede vão se empenhar para assegurar que todos os alunos
dominem o que está previsto no currículo. Sem currículo as escolas ficam à
deriva, e os pais, sem instrumentos de vigilância, acompanhamento e cobrança.
Ou seja: sem currículo não há democracia — nem educação de qualidade. Até que o
governo federal exerça sua responsabilidade nesta área, cabe aos prefeitos
cumprir o seu papel de ente federado.
O que
pode um prefeito fazer?
Em
primeiro lugar, o prefeito deve assegurar que seu município tenha um programa
de ensino. Alguns critérios podem ajudar:
O
programa deve ser claro – tão claro como um edital de concurso público. Um pai
de aluno com ensino fundamental completo deve ser capaz de ler e entender o que
seu filho vai aprender, na série em que vai ser matriculado.
O
programa no ensino fundamental deve incluir pelo menos as disciplinas
essenciais: língua portuguesa, matemática e ciências. Na educação infantil deve
levar em conta as características do desenvolvimento da criança e as
experiências que ela precisa ter nas diferentes idades. Um bom currículo para
esta etapa, especialmente de pré-escola, não deve incluir a alfabetização, mas
deve contemplar competências que preparem a criança para entrar na escola e ter
sucesso.
O
programa do ensino fundamental deve estar alinhado com os requisitos da Prova
Brasil e outros referentes externos – e não às circunstâncias e pecualiaridades
locais. O local é ponto de partida, não de chegada.
O
programa deve ser elaborado por especialistas de reconhecida competência e
experiência no assunto e obedecer aos critérios de foco, rigor e consistência.
Não é
necessário fazer um currículo em cada município – o município pode adotar ou
adaptar, se necessário, programas existentes em outras redes de ensino ou que
tenham sido desenvolvidos por instituições especializadas, desde que atendam a
esses requisitos. São poucos os bons currículos no Brasil, mas eles existem e
podem ser identificados e avaliados por critérios objetivos.
Ter
um currículo é um passo necessário, um grande passo. E precisa de um forte
contexto político para reverter a inércia. Mas não é suficiente: ter um
currículo abre oportunidades para as coisas acontecerem. Mas para que ele tenha
efeito, é preciso que outras coisas aconteçam. Disso trataremos em outro artigo
desta série.
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